Amélia de Leuchtenberg
Amélia de Leuchtenberg | |
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Imperatriz consorte do Brasil Princesa de Leuchtenberg Duquesa de Bragança |
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A imperatriz em uma pintura anônima, cópia de obra de Friedrich Dürck. |
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Governo | |
Reinado | 1829 - 1831 |
Consorte | Pedro I do Brasil |
Antecessor | Maria Leopoldina de Áustria |
Casa Real | Leuchtenberg |
Dinastia | Beauharnais |
Vida | |
Nome completo | Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais |
Nascimento | 31 de julho de 1812 |
Milão | |
Morte | 26 de janeiro de 1876 (63 anos) |
Lisboa, Portugal | |
Sepultamento | Capela Imperial, São Paulo |
Filhos | Maria Amélia de Bragança |
Pai | Eugênio de Beauharnais |
Mãe | Augusta da Baviera |
Família, infância e juventude
Amélia foi a quarta filha do general Eugênio de Beauharnais, e sua esposa, a princesa Augusta da Baviera. Seu pai era filho de Josefina de Beauharnais e seu primeiro marido, o visconde Alexandre de Beauharnais. Quando Josefina casou-se novamente, com Napoleão Bonaparte, Eugênio foi adotado como filho e feito vice-rei da Itália. A mãe de Amélia era filha do rei Maximiliano I José da Baviera e de sua primeira consorte, a princesa Augusta Guilhermina de Hesse-Darmstadt.[1] Entre os irmãos de Amélia estavam Josefina de Leuchtenberg, rainha consorte de Óscar I da Suécia, e Augusto de Beauharnais, príncipe consorte de D. Maria II de Portugal (enteada de Amélia). Napoleão III foi seu primo-irmão.Depois da queda de Napoleão em 1814, Eugênio, tendo assumido o título de Duque de Leuchtenberg, fixou residência em Munique, mas após sua morte a família ficou em situação incerta, sem grandes perspectivas para o futuro. Embora fossem nobres, seu parentesco com Napoleão não facilitava seu trânsito entre as cortes e o reconhecimento de sua nobreza. O surgimento da possibilidade de casar Amélia com o imperador do Brasil pareceu à mãe, Augusta, a melhor alternativa para garantir as pretensões da Casa de Leuchtenberg a um status régio.
Casamento
Após a morte de sua primeira esposa, a arquiduquesa austríaca Maria Leopoldina, em dezembro de 1826, D. Pedro I do Brasil incumbiu o Marquês de Barbacena de buscar-lhe na Europa uma segunda esposa. Sua tarefa não foi fácil, e vários fatores complicaram a busca. Em primeiro lugar, Dom Pedro havia estipulado quatro condições para aceitar uma nova consorte: ela deveria ser de bom nascimento, bela, virtuosa e culta. Não eram muitas as princesas disponíveis que satisfaziam todos os requisitos. Além disso, a imagem do imperador na Europa não era boa, seu envolvimento com a Marquesa de Santos era notório e dificilmente alguma candidata deixaria as cortes europeias para casar-se com quem tinha uma fama de infiel, assumindo além disso cinco enteados. Para piorar a situação, o antigo sogro de Dom Pedro, o imperador austríaco Francisco I, não tinha o genro em bom conceito e divergia de suas ideias políticas, e aparentemente agiu para boicotar um novo casamento a fim de garantir que seus netos herdassem o trono brasileiro, se sobrevivessem à infância.[2]Após enfrentar a recusa de oito princesas, o que tornara o embaixador objeto do escárnio nas cortes, Barbacena, em concordância com o imperador, baixou as expectativas e passou a buscar uma noiva apenas "bela e virtuosa". Surgiu enfim Amélia como uma boa possibilidade, mas seu encontro não se deveu a Barbacena, e sim ao Visconde de Pedra Branca, ministro em Paris, a quem ela havia sido indicada.[3] Não tinha uma linhagem particularmente distinguida por parte de mãe, e seu pai, enteado de Napoleão Bonaparte, em muitos lugares não tinha sua nobreza reconhecida justamente pelo ódio que o ex-imperador francês suscitara em boa parte da Europa. Entretanto, era seu único "defeito". A princesa era muito bela, alta, bem proporcionada, com um rosto delicado e cabelos alourados. O Marquês de Resende, enviado para averiguar a formosura da jovem, escreveu ao imperador cobrindo-a de elogios e dizendo que ela tinha "um ar de corpo como o que o pintor Correggio deu nos seus quadros à Rainha de Sabá".[2] Era, também, muito culta e sensível. Uma notícia do London Times na época afirmou que ela era uma das princesas mais bem educadas e preparadas da Alemanha.[4]
A mãe da noiva previu as dificuldades pelas quais sua filha passaria, e providenciou que ela fosse bem preparada. Além de um bom dote e enxoval, deu-lhe muitos conselhos, recomendando que demonstrasse seus sentimentos e deixasse de lado a timidez para não desestimular o marido, que fosse amorosa com os enteados, e sobretudo que se mantivesse fiel, como imperatriz, aos interesses brasileiros. Além disso, incumbiu o cientista Carl Friedrich von Martius de, durante sua viagem, instruí-la sobre a nação que governaria, e a Condessa de Itapagipe, de introduzí-la no conhecimento da personalidade do seu esposo, da língua portuguesa e dos costumes da corte brasileira.[2]
Chegada ao Brasil e vida como imperatriz
Em janeiro de 1830 ocorreu a apresentação formal da nova Imperatriz à corte, com um baile em que todas as damas se vestiram com a cor rosa, a preferida pela Imperatriz. Somente no dia seguinte ao baile o casal iniciou sua lua-de-mel, passando seis semanas na fazenda do padre Correa, na Serra da Estrela, local onde futuramente se ergueria a cidade de Petrópolis.[3]
Em seu retorno, encontraram o clima na corte pesado, por conta de problemas causados pelo amigo íntimo do imperador, o célebre Chalaça. Barbacena aproveitou para livrar-se do antigo desafeto, recomendando que ele partisse para a Europa, no que contou com o apoio irrestrito da nova imperatriz, ansiosa para apagar tudo que pudesse lembrar o passado aventuresco de seu esposo. Ela já havia mostrado atitudes firmes anteriormente, recusando-se desde o início a receber na corte a Duquesa de Goiás, filha de Dom Pedro com a Marquesa de Santos, e exigindo que ela fosse mandada para um colégio na Suíça.[3]
Ao instalar-se no palácio de São Cristóvão, percebendo a falta de protocolo que reinava, Amélia impôs à corte como língua oficial o francês e o cerimonial de uma corte europeia. Procurou atualizar a moda e a culinária, redecorou o palácio e renovou os serviços de mesa e pratarias, tentando refinar os costumes. Em parte teve sucesso, e a elegância da imperatriz, sempre impecavelmente vestida, se tornou famosa no estrangeiro.[5]
Seu relacionamento com seus enteados foi, segundo relatos, muito positivo. Tendo cativado imediatamente o afeto do marido, sua bela aparência, seu bom senso e sua gentileza no trato conseguiram o mesmo das crianças. Dedicou-se a assegurar que recebessem uma boa educação e tivessem um bom ambiente familiar. Um viajante francês registrou pouco após o casamento que "parece que a imperatriz continua a exercer sua influência sobre as crianças de Dom Pedro. Os felizes resultados já são aparentes, já fez consideráveis reformas no palácio, e a ordem começa a reinar; a educação das princesas é supervisionada e dirigida pela imperatriz pessoalmente", o mesmo cuidado recebendo o herdeiro do trono, o pequeno Pedro de Alcântara; prova-o o fato de que ele em breve passou a chamá-la de "mamãe".[1] Dona Amélia sempre manifestou-lhe carinho, e até sua morte manteve correspondência com ele, tentando instruí-lo e apoiá-lo. Sobrevivem cerca de seiscentas cartas que trocaram. Dom Pedro II retribuiria a gentileza solicitando sua ajuda para casar suas próprias filhas e visitando-a em Lisboa em 1871.[6][7]
Também foi importante sua presença para resgatar a popularidade de seu marido e animá-lo em um momento difícil do novo Império, mas o entusiasmo gerado pelo casamento entre a população durou pouco.[2] José Bonifácio aconselhou-a no sentido de que fizesse o marido se reconciliar com o povo, mas nada adiantou.[4] A precariedade da situação econômica e a turbulência política precipitaram uma crise incontornável, e em 7 de abril de 1831 Dom Pedro abdicou, deixando o trono para seu filho Pedro de Alcântara.[2]
De volta à Europa
Em seguida, Dona Amélia estabeleceu residência em Paris, com Dona Maria da Glória e Dona Isabel Maria, a Duquesa de Goiás, que acabaria adotando por filha.[9] No dia 30 de novembro de 1831 a imperatriz deu à luz a princesa Maria Amélia de Bragança, seu único rebento.[2] O pai expressou sua felicidade em carta ao pequeno Dom Pedro II, nos seguintes termos: "A Divina Providência quis diminuir a tristeza que sente meu coração paterno pela separação de V.M.I. [Vossa Majestade Imperial] dando-me mais uma filha e, à V.M.I., mais uma irmã e súdita".[10]
Enquanto isso, Dom Pedro I empreendia uma encarniçada luta contra o seu irmão, Miguel I, pelo trono português, em nome de sua filha, Maria da Glória.[2] Com a notícia da vitória do Duque de Bragança em Lisboa, Dona Amélia partiu com sua filha e sua enteada para Portugal, chegando à capital em 22 de setembro de 1833.[11] Com Miguel derrotado e exilado de Portugal, Dom Pedro e sua família estabeleceram-se inicialmente no Palácio do Ramalhão e, mais tarde, no Palácio Real de Queluz.
Viuvez e últimos anos
Dona Amélia não voltou a se casar; mudou-se para o Palácio das Janelas Verdes e dedicou-se a obras de caridade e à educação da filha, que demonstrou possuir grande inteligência e pendor para a música,[2] ocasionalmente visitando a Baviera com sua menina. Apesar de estabelecidas em território luso, elas não eram consideradas parte da família real portuguesa. Dona Amélia solicitou então ao governo brasileiro o reconhecimento dela e de sua filha como membros da família imperial brasileira, com direito a uma pensão, mas Dom Pedro II ainda era menor de idade e o Brasil era governado por uma Regência, que temia uma possível influência da imperatriz-viúva nos negócios de Estado e, mesmo, sua adesão a facções políticas que pudessem vir a prejudicar o governo. Assim, recusou-se o reconhecimento de Maria Amélia como uma princesa brasileira e proibiu-se a ela e sua mãe de colocarem os pés no país. Entretanto, com a maioridade de Dom Pedro II, que mantinha boas relações com elas, a situação mudou, e em 5 de julho de 1841 mãe e filha foram reconhecidas como membros da Casa Imperial Brasileira.
Após a morte da filha, Dona Amélia voltou a residir em Lisboa, onde morreu em 26 de janeiro de 1876, aos sessenta e três anos. De acordo com o estabelecido em seu testamento, sua irmã, a Rainha da Suécia, foi sua principal herdeira, mas legou para o Brasil muitos documentos pertencentes a Dom Pedro, hoje preservados no Arquivo Histórico do Museu Imperial de Petrópolis.[2] Seus restos mortais jazem na Cripta do Monumento à Independência do Brasil, em São Paulo, trasladados para o Brasil em 1982[17]. Até aí o corpo de D. Maria Amélia repousou ao lado do corpo do irmão de D. Pedro I, D. Miguel, no Panteão dos Braganças em Lisboa.
Descendência
Com D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal:- Dona Maria Amélia de Bragança (1831 – 1853)
Representações na cultura
Amélia de Leuchtenberg já foi a personagem principal do romance de Ivanir Calado, Imperatriz no Fim do Mundo: Memórias Dúbias de Amélia de Leuchtenberg (1997), e foi interpretada como personagem no cinema e na televisão por:- Maria Cláudia, no filme "Independência ou Morte" (1972)
- Cida Marques, na minissérie "Entre o Amor e a Espada" (2001)
- Cláudia Abreu, na minissérie "O Quinto dos Infernos" (2002)